Três Nove Sete

Muitos prédios
Muitas casas velhas
Pessoas, muitas pessoas
Cimento, asfalto e carne
Céu nublado por pensamentos oblíquos
Musica ligada no ouvido
Mais pessoas
Menos espaço
Barulhos irritantes
Vento no rosto
Sono
Cochilo
Sensação estranha na boca
Coceira nos olhos
Muito mais gente
Tempo que nunca passa
Menos gente
Mais espaço
Duas horas se passaram

E tudo aquilo que me faço indiferente

O Maior Amor

   Os dias passam, mas sinceramente, isso não faz diferença. Poderia ser três horas da tarde por três dias seguidos que eu estaria aqui, sem perceber o tempo não passar por meu rosto. Tem algo esquisito no ar, que não me deixa perceber as coisas mudando. Mesmo que essa mudança seja em mim.

   Eu mudei. As pessoas mudam, oras. Mas eu estou me estranhando. Eu não sou quem eu conheci a alguns poucos anos atrás. Eu sou um cara estranho, despreocupado e relativamente feliz. Quando eu me conheci, eu era mais preocupado com as coisas e com as pessoas. Eu era mais normal, não tão fora do padrão. Eu continuava feliz, mas era um pouco mais baixo e minha voz não era tão grave.

   Tenho rugas e cabelos brancos, mas nem passei dos vinte. Reclamo das coisas que nem me preocupar de verdade me preocupam. Reclamo só pelo direito que tenho de fazer isso. Parei de me importar se meus textos estão com um português corretíssimo, ou se meus poemas tem um tom mais barroco. Que se dane.

   Meus óculos estão sempre sujos. Meus olhos estão sempre vendo sujeira mesmo, pra que limpar? Minhas camisas estão sempre um pouquinho amassadas, algumas mais largas, outras mais justas. Minhas calças, todas elas, tem um pequeno rasgo, alguma imperfeição. Minha meia predileta tem um enorme rasgo no pé direito e meu casaco cheira a laboratório. Meu boot está constantemente cheio de lama. Amo todas as minhas roupas, e não as trocaria por nada.

   A mesa do meu computador tem tantas coisas que eu deveria fazer uma série de textos pra descrever a importância deles pra mim. Uma foto dos meus amigos, uma ocarina e uma lavalamp. Dois carrinhos e um envelope de remédio pra dor de cabeça. carregadores de pilhas e uma agenda da faculdade. Um porta canetas, um porta CDs e os emblemas do Pedro II. Tantas coisas que me orgulho de ter que não se imagina.

   O porque desse texto tão estranho e diferente? Pelo mesmo motivo de eu ser tão estranho e diferente: Porque eu quero. E eu gosto. E eu amo ser assim. Eu me amo, é por isso.

Nem sempre calmo, mas nunca preocupado.

   Tem sido meu lema. Não me preocupar com as coisas, não me importar com os defeitos, nem com os meus nem com os alheios. Apenas viver, e ver. Ver no que vai dar, o que vai acontecer.

   Tenho buscado inspiração nas coisas cada vez mais simples, tenho visto as coisas com olhos cada vez menos críticos, parado de me importar tanto com o rancor que guardei, com a raiva que senti. Praticamente, estou no processo de substituir os meus sentimentos negativos por indiferença. Acho que viver fica mais fácil quando simplesmente ignoramos essas coisas dignas do nosso total desprezo.

   Não é fácil... Eu meio que me acostumei a nutrir esses sentimentos negativos pelas coisas que não me agradam. Mas não é impossível. Na verdade, é bem mais fácil do que esperava, embora não seja a coisa mais tranquila de se fazer. Mas é até interessante observar como as coisas andam quando simplesmente relaxamos. Quando deixamos as preocupações de lado e vivemos. Quando deixamos as coisas acontecerem, mesmo que mais à frente visemos a derrota, o fracasso ou a vitória "meia-boca" que não desejamos. Deixa viver, só acontecem coisas boas quando a gente relaxa.

   Relaxar, sentir o vento passando, deixar o atraso e o compromisso um pouco de lado, só pra sentir o silêncio, a calmaria... Tudo que uma pessoa com tantos cabelos grisalhos poderia querer. É a sensação que eu busquei por tanto tempo, e que finalmente achei na minha forma de viver mais despreocupada com os sentimentos, tanto os meus quanto os dos outros. Fica tudo mais fácil quando deixamos nossas vidas sendo nossas e apenas ligando pra elas, sem se importar se isso machuca ou não o próximo.

   Nem sempre calmo, mas nunca preocupado.

Negativa

Não, não me levantarei.
Permanecerei aqui, deitado, de olhos fechados;

Não, não serei a hiena.
Não rio das mortes, apenas as desprezo;

Não, não me tornarei eternamente responsável pelo que cativei.
Já não me faz diferença, de qualquer forma;

Não, não estarei lá pra te segurar.
Não estarei em lugar algum, principalmente se você estiver lá;

Não, não vou olhar nos teus olhos e contar mentiras.
Seria melhor nunca mais fitar-te;

Não, não quero. Não quero.
Jamais irei querer. Nem sentir, nem ouvir.

Não, esqueça. E não esqueça de esquecer;

Primeira Carta

Caríssimo Corpo

   Como tem passado? Muito tempo que não nos encontramos. Desde nosso ultimo encontro, tantas coisas mudaram na minha vida que um papiro como esse seria pequeno demais pra contar. Tentarei, assim mesmo... De tudo, o mais importante é que finalmente achei um lugar pra ficar. É diferente de todos os lugares que já estive, mas é estranhamente confortável, apesar de pensar em ir embora de vez em quando... Mas é só eu me recostar perto da lareira que esse pensamento me foge... Todas as outras coisas que mudaram em minha vida são de uma natureza inexplicável. Uma delas é que me sinto leve e liberto. Liberto de tantas correntes e de tantas amarras, como costumava ser o passado. Não tenho feridas (elas ficaram com você, perdão), mas as lembranças doem mais, acredite. 

    Nosso separo me foi difícil em um primeiro momento. Não se acreditava que era possível que eu fosse feliz longe de ti, e realmente tem sido difícil. Mas não impossível. Espero que fiques feliz em saber que consegui me libertar de você. Desejavas tanto isso... Um pouco de esforço maior de minha parte e finalmente podemos seguir caminhos diferentes.

    De resto, O que não é novo continua simplesmente velho. As coisas não mudam muito, ainda mais se não há nada pra envelhecer. Ainda posso aprender muitas coisas e sinto que agora posso ir mais além. Além de tantas barreiras. Mas devo admitir que sinto falta do teu aconchego, meu corpo... Não é impossível me livrar de você, mas é difícil, ainda assim. Mas a morte falou mais alto, eu acho, não?

    Bem, sigamos nossas vidas (pelo menos eu...) e que tenhas um bom descanso. Apesar de utópico, espero que nos encontremos um dia.

  Com carinho, Alma;

Desabafo VI

Tenho andado melancólico ultimamente. Me sentindo, além de um tanto vazio, um pouco desnecessário. Não há motivos... Só acordei assim, simplesmente, como quem acorda com uma dor no pescoço. Tentando esquecer que as coisas não são como deveriam e que o mundo é só um lugar onde as pessoas que nós não gostamos moram. Tentando lembrar da época em que sonhar era tão fácil quanto dormir, que respirar não era assim tão difícil e não arrancava tanto sangue. Tentando me manter de olhos abertos enquanto minhas pupilas se acostumam com essa luz ofuscante que uns chamam de sol, outros de dor, mas que nunca ninguém irá me convencer de que não é raiva da vida. Vida injusta, vida ingrata, vida que arranca vida. Vida essa que deixou os dias cada vez mais cinzas e as árvores cada vez mais nuas, sem seu verde. Vida que é tão burra a ponto de achar que tudo de ruim que ela faz comigo é capaz de tirar o sorriso em meu rosto. Ele continua ali, mesmo que falso.

Mas tudo tem seu lado bom. Botas, calças, casaco, fones de ouvido e passos lentos no chão molhado são até confortáveis de se viver, afinal. E eu tenho que me acostumar com essas nuvens, essas gotas mal formadas nas lentes dos meus óculos, às manchas de lama nas botas, e a tudo que só me faz lembrar que, como chuva, minha vontade de continuar caiu ao chão. Caiu, mas logo retorna aos céus. É tudo questão de tempo.

Coração Espelhado. Por Joker.

-Por Joker-

Um batimento cardíaco acelerado desmarca o meu ritmo.
Por tanto tempo, resolvi ignorar a existência desse dragão que inflama cada parte do meu ser.
Por vezes, acreditei que não mais precisaria querer usar o seu poder.
Esse sentimento que me impulsiona a fazer coisas que eu não sabia que queria

Esse sentimento, que te dá força, que te torna indestrutível
é o mesmo que te cega e que tira sua razão
Por mais engraçado que seja, há também uma pitada de prazer em se sentir assim,
tão forte e tão desprevinido ao mesmo tempo.

Uma simples expressão nunca vai ser o suficiente enquanto isso ainda habitar o meu peito
Uma simples demonstração não é forte o bastante para me curar
Um grito seria inútil... como na água, ninguém iria me ouvir...
Como na água, a pressão do meio é muito maior do que meus pulmões podem superar
A sensação de incapacidade só aumenta a necessidade de gritar, e me coloca num ciclo infinito

É interessante como esse sentimento se assemelha com seu oposto
o ódio e o amor não se completam. São como um objeto real e uma imagem no espelho.
Para quem acha que o texto é sobre o amor... Fique atento, um dia o ódio também vai te surpreender!

-Por Joker-
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