Distante Mulher

Lábios!
Lábios que levam aos céus
Lábios que queimam os véus
Lábios que descrevem o delírio dos homens;

Lábios!
Lábios que distraem os olhos
Lábios que na alma formam refolhos
Lábios que, iguais, só tu tens;

Lábios!
Lábios que despertam a vontade da alma
Lábios que, só de olhar, já me trazem inigualável calma
Lábios que de vez em quando parecem que jamais serão meus;

Desabafo VII

   É meio patológico essas coisas de gostar de alguém, estar com alguém, amar alguém... Se você parar pra analisar, tem muito a ver com doenças sim. É algo que mexe intimamente com nosso sistema nervoso central, alterando nossas percepções, nossas reações às coisas. É interessante perceber essas coisas... A imagem não sai da sua cabeça, o sorriso ao ver ela é natural e involuntário...

   Esses dias eu me senti meio nostálgico. Eu tava me lembrando do inicio do ano, que eu ia pra casa da minha amiga... a gente ficava abraçado, vendo TV. Era um sentimento muito bom, sabe... algo que eu as vezes sinto falta. Carinho é uma coisa que eu sempre tive, e quando fico sem me da saudade... é bem ruim isso.

   Mas sei lá, acho que não é nada insuportável... Convivo com essa falta já tem um tempinho... não é como se fosse algo cuja minha vida dependesse... Enfim, só queria partilhar essa idéia mesmo. 

   

Ladrão de Sonhos

   Noites tão escuras quanto tua mente, eu entro e consigo pressentir tudo que pensas enquanto se faz de morta na cama. As imagens que dançam são todas cheias de tristeza e loucura, e nada que você dizia nesse pensamento perdido fazia sentido. Era como se ninguém te entendesse, e todos ignoravam você. Olhavam e pensavam: "O que esse estorvo quer?". Choravas e soluçavas. Dava pena e ver, mas continuei assistindo.

   Depois de muito andar, finalmente acordaste e eu fui expulso de tua mente. Acordaste chorando e com medo de que ninguém ouvisse o que dizes. Eu observava suas incrível performance, tal qual uma atriz. Era lindo a forma natural que as lágrimas caíam, e como o corpo tremia.

   Visitarei-te outras vezes mais, apenas para ouvir esses soluços que me dão tanto prazer e ver esse choro que desenha o sorriso em meu rosto mais uma vez. E espero que eu seu próximo sonho todos ouçam o "Mas eu amo tanto vocês!" que tanto berravas.

Universidade Federal do Rio de Janeiro

   Ontem eu resolvi ir mais cedo pra Faculdade. Sentado no banco do ônibus, a Avenida Brasil ainda era iluminada pelos postes elétricos e pelos faróis dos carros e as pessoas pareciam ainda não ter acordado completamente. Nem mesmo as que estavam de pé.

   Estranhamente, eu estava desperto e sem um pingo de sono. e, mais estranho do que minha falta de sono era o sorriso leve do meu rosto e minha respiração tranquila. Tudo isso às quatro e cinqüenta da manhã. Eu via as passarelas da avenida passando, o número delas ficando cada vez mais perto da doze, que é onde eu desço. E o dia ainda tão escuro quanto a noite.

   Quando desci do ônibus, peguei o segundo que me deixa na frente do meu prédio. na primeira curva que ele fez, eu consegui ver um lindo nascer do Sol. Falam muito do pôr do Sol, alguns loucos até o aplaudem, mas sempre achei o nascer dele muito mais bonito. É como se alguém tivesse cortado o céu com uma espada, e só ficaram enormes rastros laranjas, com algumas pinceladas purpúreas. Meus olhos ficaram congelados, olhando para aquele paraíso de cores até o ônibus virar de novo e tirar a perfeição do meu campo de visão.

   Cheguei até cedo demais. Eram dez para as seis da manhã e eu estava sentado na escada do prédio. Minhas únicas companhias eram um cão e três libélulas. Dava pra ver o Nascer do Sol, então eu não me preocupei em ter chegado muito cedo. Só fiquei lá sentado, admirando. 

   Já é a segunda vez que eu vejo o nascer do Sol na faculdade. A primeira vez foi no primeiro dia que eu fui pra lá sozinho. Me sentia bem lá. Eu sinto o ar mudar quanto entro nos domínios da universidade. É mais leve, carrega sorrisos e preocupações vãs que somem tão rápido que nem lembro de todas. É uma sensação que não sentia desde que saí do Colégio Pedro II. Eu via o nascer do Sol quando ia para lá também, e foi a primeira vez que eu tive mais de três minutos pra admirar.

   Saudades. Muitas saudades do meu Colégio. Mas acho que a minha Faculdade me ajuda a suprir isso.
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