Do sol, da Lua e de tua face

          Por entre blocos de cimento e ferro, eu vi o sol nascer. Eu vi o céu tingindo-se de lilás e laranja, bem aos poucos, expulsando o roxo e o azul da noite passada. O Sol, agora por mais doze horas reinará. Cairá e reinará. E assim será, até que a morte separe-o da Lua.

        Lua que se ilumina com o Sol. Sol que mostra a Lua aos humanos. Humanos que olham pra Lua como um Deusa. Deusa que abençoa os mares. Mares que se tornam fontes vivas do reflexo do Sol nascente. Nascer, morrer e renascer, para morrer outra vez, só para nascer mais uma vez, e assim criar seu ciclo.

        Satélites morrem sem o direito de um funeral decente. Estrelas perdem sua luz lentamente, vendo seus amigos dando um ligeiro adeus com os olhos rasos. E o Sol morre e sua morte é ignorada. Nascerá de novo, pra que importar? Mas nunca se sabe, né?

        E amanhã a magnificência de uma luz quente voltará a aquecer meu rosto, e tudo voltará a ser como sempre foi. E amanhã, ao acordar, com o sol me acarinhando o rosto, teu rosto me aparece e meu sorriso se forma. Todos os dias.

À Beira dos Conformes - Por Joker

-Por Joker-

Já não encontro músicas que exprimem o que eu sinto. Eu não queria mais dizer que estou bem, pois eu minto
Existe, porém, um enorme espaço vazio na minha falta de tempo que eu preencho com uma ansieade que por vezes, se confunde com insanidade.

Sinto como se um abutre tivesse arrancado uma parte de mim, e levado embora, voando com suas grandes asas negras
Não é uma dor, é uma dormência. Não é o sabor, é a ausência. Um pouco de solidão, um pouco de carência(?).
Descobri que não sou tão forte e que uma pitada de agonia não dissolve no tempo. Que o medo se propaga na ausência da reciprocidade.
Sentimentos que cortam como o vento, mas que deixam um ar tão denso quanto a incapacidade.

Os dias ficaram pesados, a rotina ficou cansativa, a angústia se fez cada vez mais notável, pensamentos negros afloraram.
Eu nem sei quando foi que isso começou, não faço ideia de como vai terminar... mas tenho medo.
A imensa fome de viver, de repente, foi saciada. A ansiedade de um novo amanhecer, se tornou ansiedade de adormecer.
E fingir novamente que eu acredito que as coisas vão ser colocadas em seus devidos lugares antes que eu abra meus olhos e veja que tudo que um dia eu planejei, se transformou em... em que mesmo?
Eu já não lembro dos meus sonhos infantis. Daqueles em que você ainda acredita que as coisas serão do jeito que você quer
E parece que a cada dia, alguém martela isso na minha cabeça: "nada pode ser tão bom quanto você gostaria que fosse". É facil ignorar isso no começo.
Mas depois de um tempo, as pessoas parecem fazer questão de provar que isso é verdade, nunca vendo o lado daquele que não quis acreditar.

E assim, os dias ficam cada vez mais pesados, com a leve impressão de que algo que antes te pertencia, está se afastando...

-Por Joker-

Às Borboletas.

      E tiraste das minhas costas todo o pesar, e salvaste minha alma do vazio negro. Um, e apenas um dia, me bastou pra me sentir jovem outra vez. Da mais pura forma da demonstração de afeto. Ah, como é doce a sensação de sentir as estrelas olhando pra nós, e como é bom o toque de lábios. Como é bom ouvir, dentro do mais completo estardalhaço, um silêncio, que toma conta do mundo exterior. As pessoas, os carros, as paredes, o teto e o som, tudo some, e só há duas pessoas, em todo mundo. Apenas elas, se beijando.

      E, como se seguissem partituras ou como se fossem guiadas, a sincronia do movimento era perfeita. Fecham-se os olhos, para que nada mais precise fazer sentido. Abraçam-se, tocam-se, conhecem-se. Beijam-se. E ali se descobre as dores passadas, as alegrias futuras e muitas outras coisas sobre quem se prostra diante de você. E nos sentimos parte dela. E nos sentimos bem.

        O escuro não é suficiente pra me impedir de olhar nos teus olhos. A respiração forte e o toque dos narizes. Olhos fixos nas pupilas dilatadas e contentes. O sorriso bobo, sempre tão bom de se exibir. Só para-se de olhar um os olhos do outro para que os lábios se encontrem. E depois os olhos, agora fascinados, se fixam de novo, e assim a noite se segue, até a hora da partida. E o frio segue seu rumo, ao meu lado.

        Andando por entre as luzes amareladas, eu já lembrava. Eu já tinha lembranças. Eu sorria, como nunca sorri antes. Eu me sentia feliz como a tempos não me sentia.

        A noite termina. A felicidade e o encanto não.

Desabafo V

        Eu resolvi dar uma volta no tempo e olhar as folhas jogadas no chão do meu quarto. Muitos textos que eu mesmo escrevi me traziam vergonha, medo, e até mesmo algumas gargalhadas por encarar o passado, mas já sabendo como essas histórias terminam. É muito estranho reler essas coisas.

        A pior das coisas é você gostar do que fez, mas querer mudar. Querer apagar aquela tinta e colocar a nova, a mais recente. Mas não posso. Até tenho como faze-lo, mas isso seria violar meu passado. Desrespeito as fotos antigas. Não... Deixe lá. Recordações nunca são demais, ainda mais de épocas que nos foram tão boas. Foram boas, ora... Machucaram sim, mas na maioria das vezes eu estava sorrindo. Sempre sorrimos quando olhamos nosso passado, mesmo quando estamos com os olhos rasos d'água.

        Mas é tempo de uma nova partida. Um começo completamente novo. Assim como sorrimos ao olharmos o passado, devemos sorrir ao viver o presente e imaginar o futuro. Devemos ter nossos sonhos. E, se já não mais sonhas o que outrora sonhou... Substitua-os! Não há vergonha em mudar de idéia. Todos, em algum momento da vida, pensam fazer escolhas certas, mas que nos levam à forca. Se saímos do caminho a tempo, ótimo. Retome sua vida e passe bem.

      Nos reservam coisas boas. Sempre teremos coisas boas, por mais que soframos agora. E, quando mais estamos sofrendo, nos aparece alguém. Alguém que parece nos conhecer de outras datas. Alguém que te conheces de outros lugares. Alguém que esteve próximo, mas que nunca percebemos. Alguém. E então vivemos mais momentos felizes, que serão levados juntos aos nossos olhos, como histórias, ou de segundos, ou de vidas.

        Perceba, caríssimo leitor, que não há pesar em minhas palavras. Perceba que não há arrependimento do passado. Talvez um pouco de vergonha, mas vergonha de mim mesmo. Vergonha por não saber lidar com as coisas ou até mesmo vergonha por deixar a areia escorrer pelas minhas mãos. Mas arrependimento não.

        Agora meu conselheiro é o tempo. Meu porta-voz é o vento. Deixemos viver, ora pois. Deixemos que o destino brinque conosco. Deixemos que as coisas tomem seu rumo, e rezemos pra que nossos caminhos se cruzem mais uma vez. Deixa... Deixa viver!

        Da mente ao copo. Do copo aos pés. Dos pés aos ouvidos e dos ouvidos aos lábios unidos. Noite que embala o sono sonhado por esses sonhadores sonâmbulos: Saúdo-te e agradeço-te.

Uma Canção Menos Grosseira

    Dessa vez, deixarei os meus dedos me guiarem. Deixarei que minha vida tome o rumo que meus olhos desejam. Dessa vez, minhas palavras terão o poder. E eu, o dono da história, criarei um mundo novo e menos barulhento. Reinará a paz a cada página, e no final não teremos festa, mas sim o dia-a-dia de pessoas felizes pelo nada que possuem.

    Esse mundo terá um nome simples de se proferir e uma bandeira fácil de se desenhar. Terá paisagens boas de se olhar e céus de cores diferentes. As tardes serão mais longas que a noite e o dia será mais calmo que a madrugada. Todas as vezes que o Sol for se pôr, eu estarei lá, sentado no topo da montanha mais alta, assistindo o meu mundo. O meu mundo... Meu.

    Quando eu escrever sobre o Mar, lembrarei de criar as algas, os corais e os navios piratas naufragados mais próximos da costa. Farei com que cada criança saiba dos segredos dos bandidos, e cada uma delas terá uma infância tão cheia de fantasias que crescerá com o mesmo sorriso infantil. Essa criança vai querer contar a todos "Vejam! Um navio de piratas! Eles têm aquelas espadas legais e tudo mais! Vejam, vejam", mas os adultos estarão ocupados, invejando a infância desse pobre diabo. O sorriso infantil some, e em seu lugar entra o olhar adulto de frieza e inveja daqueles que não foram forçados a jogar suas infâncias no lixo.

    Eu vou ter pena das almas desses, e estarei sempre lá, amando cada personagem que criei, como se fossem parte de mim. Amarei a cada um, e sempre tentarei escrever uma história mais feliz. Uma série de crônicas pra reconfortar aqueles que perderam seus pais cedo demais. Amarei a cada um, como se a tinta fosse meu sangue a caneta fosse a fibra de meus músculos. Amarei tão cegamente, que não verei obstáculos para ajuda-los.

    Mas esses ingratos me odiarão. Eles se perguntarão porque suas vidas foram criadas, e porque sofrem tanto ainda. Vão se perguntar porque foram criados. Por que nasceram? "Por que existe alguém que acha divertido ver a dor de alguém inocente da própria existência? A culpa... A culpa é do meu criador! Se não fosse por ele, eu jamais sofreria tanto... Odeio você" diriam eles, e eu, em todo o meu amor, me machucaria demais, tal qual um pai ao receber o ódio de seus filhos.

   Mas se você acha que sou Deus, estás enganado. Minha diferença para Ele é que Ele sabe perdoar. Ele perdoa e te ama cegamente de novo. Eu... Eu criarei finais tenebrosos, de dores e sofrimento a cada um dos rastros de tinta falhos que criei. Farei a literatura se transformar em um inferno de dor, e destruiria esses hipócritas, que dizem odiar minhas criações, mas estão sempre pelas noites aproveitando meu mundo... Meu mundo... Meu. Destruiria esses idiotas de olhares carentes e vazios. E, no final, só restariam as crianças, que ainda brincam de piratas na praia.

    Eu descobrirei a hora certa, e enfim criarei outro mundo. Nesse novo mundo, não há dia. Não existe nem o dia, nem a noite, nem a madrugada. Apenas as tardes felizes e róseas. As praias terão muitos piratas e as florestas muitos monstros. Mas qualquer criança será capaz de vencê-los. Esse mundo não terá nome, nem bandeira. Esse mundo não terá abismos, nem mortes. Ninguém morrerá. Ninguém envelhecerá. Não haverá a passagem do tempo. E todos nascerão sobre o mesmo pôr-do-sol. Sob o mesmo hino.

    E eu farei questão de que o hino desse mundo seja uma canção menos grosseira que a do meu primeiro erro.

A Correnteza

    Então me bate essa súbita vontade de proferir palavras que possam ajudar-me a me livrar dessa dor de cabeça. Apenas colocar as palavras no rio, e deixar que este faça seu trabalho e leve o cadáver literário de uma mente confusa pra longe daquele bar sujo, onde nos fundos eu matei um inocente. Deixe que o Mystic faça seu trabalho.

    É que não quero, por mais uma vez, pagar pela rebeldia de minha língua. Não poderia jamais suportar a dor da perda mais uma vez... Mas é aí que peco mais uma vez, pensando na perda de algo sem posse. Pensando... Peco pelos meus pensamentos oblíquos. Me diga porque sua imagem, tão recentemente formada e gravada, teima em me aparecer a todo momento... Me diga porque eu, que sempre fui frio, caio mais uma vez nas graças de braços formosos e sorrisos sedutores. 

    O medo toma seu trono. Aparece com o único propósito de me mostrar a verdade, mas de uma forma assustadora. Verdades que podem doer. Verdades que jogam meus erros na cara e gritam a possibilidade da segunda vez. O medo de que o amanhã dos meus sonhos recentes não sejam tão azuis. O medo de descobrir porque tua imagem tanto me perturba... Medo do encanto de sonatas tímidas, que eu penso já ter escutado.

    Essas canções proibidas não podem ser tocadas... Não por agora. Deixe minha ferida cicatrizar. Deixe a neblina sair da estrada. Deixe que o Mystic faça seu trabalho... Eu agora só quero deitar e escutar as ondas quebrarem, enquanto vejo as coisas passarem na minha frente. Só quero paz, onde quer que eu vá. Só quero que eu não mais tropece em meus próprios verbetes... Não quero mais me enganar, e tenho medo. Tenho trauma. Tenho medo.

    Apenas... Apenas deixe o Mystic fazer seu trabalho.
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