Desabafo V

        Eu resolvi dar uma volta no tempo e olhar as folhas jogadas no chão do meu quarto. Muitos textos que eu mesmo escrevi me traziam vergonha, medo, e até mesmo algumas gargalhadas por encarar o passado, mas já sabendo como essas histórias terminam. É muito estranho reler essas coisas.

        A pior das coisas é você gostar do que fez, mas querer mudar. Querer apagar aquela tinta e colocar a nova, a mais recente. Mas não posso. Até tenho como faze-lo, mas isso seria violar meu passado. Desrespeito as fotos antigas. Não... Deixe lá. Recordações nunca são demais, ainda mais de épocas que nos foram tão boas. Foram boas, ora... Machucaram sim, mas na maioria das vezes eu estava sorrindo. Sempre sorrimos quando olhamos nosso passado, mesmo quando estamos com os olhos rasos d'água.

        Mas é tempo de uma nova partida. Um começo completamente novo. Assim como sorrimos ao olharmos o passado, devemos sorrir ao viver o presente e imaginar o futuro. Devemos ter nossos sonhos. E, se já não mais sonhas o que outrora sonhou... Substitua-os! Não há vergonha em mudar de idéia. Todos, em algum momento da vida, pensam fazer escolhas certas, mas que nos levam à forca. Se saímos do caminho a tempo, ótimo. Retome sua vida e passe bem.

      Nos reservam coisas boas. Sempre teremos coisas boas, por mais que soframos agora. E, quando mais estamos sofrendo, nos aparece alguém. Alguém que parece nos conhecer de outras datas. Alguém que te conheces de outros lugares. Alguém que esteve próximo, mas que nunca percebemos. Alguém. E então vivemos mais momentos felizes, que serão levados juntos aos nossos olhos, como histórias, ou de segundos, ou de vidas.

        Perceba, caríssimo leitor, que não há pesar em minhas palavras. Perceba que não há arrependimento do passado. Talvez um pouco de vergonha, mas vergonha de mim mesmo. Vergonha por não saber lidar com as coisas ou até mesmo vergonha por deixar a areia escorrer pelas minhas mãos. Mas arrependimento não.

        Agora meu conselheiro é o tempo. Meu porta-voz é o vento. Deixemos viver, ora pois. Deixemos que o destino brinque conosco. Deixemos que as coisas tomem seu rumo, e rezemos pra que nossos caminhos se cruzem mais uma vez. Deixa... Deixa viver!

        Da mente ao copo. Do copo aos pés. Dos pés aos ouvidos e dos ouvidos aos lábios unidos. Noite que embala o sono sonhado por esses sonhadores sonâmbulos: Saúdo-te e agradeço-te.

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