A Correnteza

    Então me bate essa súbita vontade de proferir palavras que possam ajudar-me a me livrar dessa dor de cabeça. Apenas colocar as palavras no rio, e deixar que este faça seu trabalho e leve o cadáver literário de uma mente confusa pra longe daquele bar sujo, onde nos fundos eu matei um inocente. Deixe que o Mystic faça seu trabalho.

    É que não quero, por mais uma vez, pagar pela rebeldia de minha língua. Não poderia jamais suportar a dor da perda mais uma vez... Mas é aí que peco mais uma vez, pensando na perda de algo sem posse. Pensando... Peco pelos meus pensamentos oblíquos. Me diga porque sua imagem, tão recentemente formada e gravada, teima em me aparecer a todo momento... Me diga porque eu, que sempre fui frio, caio mais uma vez nas graças de braços formosos e sorrisos sedutores. 

    O medo toma seu trono. Aparece com o único propósito de me mostrar a verdade, mas de uma forma assustadora. Verdades que podem doer. Verdades que jogam meus erros na cara e gritam a possibilidade da segunda vez. O medo de que o amanhã dos meus sonhos recentes não sejam tão azuis. O medo de descobrir porque tua imagem tanto me perturba... Medo do encanto de sonatas tímidas, que eu penso já ter escutado.

    Essas canções proibidas não podem ser tocadas... Não por agora. Deixe minha ferida cicatrizar. Deixe a neblina sair da estrada. Deixe que o Mystic faça seu trabalho... Eu agora só quero deitar e escutar as ondas quebrarem, enquanto vejo as coisas passarem na minha frente. Só quero paz, onde quer que eu vá. Só quero que eu não mais tropece em meus próprios verbetes... Não quero mais me enganar, e tenho medo. Tenho trauma. Tenho medo.

    Apenas... Apenas deixe o Mystic fazer seu trabalho.

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